Trabalho social aliado a obras de habitação fomenta o desenvolvimento socioeconômico
Atualmente, três grandes projetos habitacionais são realizados pela Prefeitura de Aracaju, simultaneamente, na capital sergipana: a construção de um novo conjunto residencial no bairro Lamarão (atrelado à obra da avenida Perimetral Oeste); a construção do Residencial Mangabeiras Irmã Dulce dos Pobres, no bairro 17 de Março; e a infraestrutura da comunidade Recanto da Paz, no bairro Aeroporto.
Juntas, essas obras beneficiarão mais de duas mil famílias e em cada uma delas há o Projeto de Trabalho Social (PTS), que precede a execução dos projetos civis em si e cujas equipes são designadas para acompanhar toda e qualquer demanda oriunda da população das localidades afetadas. De Plantões Sociais para sanar dúvidas, realizar negociações e direcionar as principais questões das comunidades envolvidas nos projetos, o PTS realiza ainda cursos, oficinas, palestras e outras ações de formação para promover a capacitação, a autonomia e o desenvolvimento socioeconômico dessas famílias.
Diretora de Gestão Social da Habitação da Secretaria Municipal da Assistência Social, Rosária Rabelo aponta que o trabalho social “é um ponto estratégico para que as obras possam acontecer de forma positiva”. Ela explica que todo projeto de infraestrutura e de habitação de interesse social tem uma exigência legal de que exista o trabalho social, para que este possa identificar as necessidades sociais do território e as necessidades das famílias ali residentes.
“Digo sempre que a equipe social é a primeira a entrar e a última a sair porque trabalhamos desde a identificação dos imóveis, das famílias residentes naquele território para, a partir daí, ter um diagnóstico, um estudo socioeconômico do território e das famílias. Isso é o pontapé inicial para as intervenções sociais que vão ocorrer a partir da demanda de cada localidade e de cada conjunto de famílias”, destaca Rosária.
Mesmo com realidades sociais diferentes de território para território, o PTS segue o direcionamento dos eixos mobilização e fortalecimento social; desenvolvimento econômico, que tem a ver com geração de trabalho, renda e capacitação das comunidades; e educação ambiental e patrimonial. A partir destes eixos é que são realizadas as atividades sociais.
“O sucesso desse trabalho depende, principalmente, de fazer a comunidade se sentir parte do projeto, parte dessa nova realidade que está sendo construída, que ela entenda, aceite, mas também contribua, com críticas, com indicativos de melhorias e ajustes necessários para atender as reais necessidades”, ressalta Rosária.
Perimetral Oeste
Considerada o maior projeto do Programa de Requalificação Urbana “Construindo para o Futuro”, financiado pelo Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID), a avenida Perimetral Oeste, na qual são investidos cerca de R$150 milhões, já está mudando o cenário da região Oeste capital. Com 7,5 km de extensão, a nova via criará uma nova ligação com o município de Nossa Senhora do Socorro e transformará a dinâmica de cinco bairros da capital: Bugio, Soledade, Jardim Centenário, Olaria, Santos Dumont e Lamarão. Considerando a dimensão e as localidades atravessadas, a obra vai beneficiar mais de 100 mil famílias.
Além da avenida em si, o projeto da Perimetral Oeste contempla a construção de um novo conjunto habitacional no Lamarão, obra que beneficiará diretamente 643 famílias, como explica a técnica de referência da Diretoria de Gestão Social da Habitação do município, Alexandra Freire. Ela destaca a aceitação das pessoas como o principal ponto positivo do projeto.
“A visão de desenvolvimento socioeconômico com os quais já trabalhamos envolve ainda as políticas de salvaguarda, que fortalecem o que estamos desenvolvendo, questões como o empoderamento da mulher, a entrada no mercado de trabalho, o que faz com que possamos levar um diferencial, tanto na qualidade de vida, transformando a localidade, como no desenvolvimento das famílias. Nos primeiros meses da intervenção, trabalhamos com as negociações, passamos a trabalhar, no início de 2023, com os cursos, oficinas, palestras, tudo isso para fortalecer as comunidades”, pontua a técnica de referência.
Mangabeiras
Em outra região da cidade, no bairro 17 de Março, zona Sul, a obras de construção do Residencial Mangabeiras Irmã Dulce dos Pobres possui algumas peculiaridades em relação aos outros dois projetos citados. Junto a essa comunidade, além da construção do residencial, a Prefeitura construiu uma reserva extrativista para o manejo sustentável da mangaba, uma forma de preservar essa cultura e garantir o desenvolvimento e renda das famílias extrativistas que dependem desse trabalho para sobreviver.
Conforme a técnica de referência do PTS Mangabeiras, Geisa Lima, o social entra para colocar as famílias em contato com as equipes da construção e para que toda a comunidade “possa se inteirar do que é, do que eles vão receber, qual a importância do que eles vão receber, e para que eles tenham uma comunidade mais forte, mais unida para poderem usar todos os equipamentos da melhor forma”.
“Temos o Plantão Social, atividades como oficinas, cursos, palestras, o Ocupe a Praça que é quando levamos as famílias para praticar atividade física na praça, entre outros os pontos. Trabalhamos muito a questão ambiental porque esse projeto tem o diferencial de contar com uma reserva extrativista de mangaba, então esse trabalho é fundamental. São capacitações que ofertamos, mas também realizamos cursos que a comunidade solicita por entender que são prioritários para ela, abarcando suas necessidades”, salienta Geisa.
Quem usufrui das ações sociais passa a se sentir parte do projeto, ponto fundamental para o desenvolvimento da localidade, como afirma Maria Lúcia dos Santos, de 49 anos. Moradora do Marivan, ela aproveita o trabalho social realizado no bairro vizinho para ressignificar sua rotina e pensamentos sobre o futuro. Natural de Alagoas, há 20 anos veio fazer uma visita à irmã e não saiu mais de Aracaju.
“Sou beneficiada com o auxílio moradia, e no Marivan tenho uma vida muito simples. Faço diária de tudo o que aparece. Dos três filhos que tenho, apenas o mais novo, de 18 anos, mora comigo. Vendi picolé durante dez anos e, depois disso, sempre procurei meios para sustentar a minha família. Hoje, tenho no trabalho social das Mangabeiras uma espécie de refúgio, um lugar onde convivo com outras pessoas e aprendo coisas novas. Já fiz dois cursos através do PTS e me vejo trabalhando em uma das áreas. Tenho muita fome por conhecimento, principalmente na área da saúde e, fazer o curso de cuidador me abriu novos horizontes. Um dia, quero poder devolver a essa comunidade o que aprendi no curso, como uma forma de gratidão”, conta Maria.
Assim como ela, Angélica Sacramento, de 53 anos, também ganhou sentiu-se motivada a partir do PTS das Mangabeiras. Sua filha a indicou um dos cursos e aAngélica logo aproveitou a oportunidade. Agora, ela vê o bairro 17 de Março sob uma nova perspectiva social e vislumbra um futuro melhor para ela e toda a comunidade local.
“Tenho dois filhos, mas moro sozinha. Vir para o trabalho realizado pela equipe social é até motivo para sair um pouco de casa, conversar, trocar experiências, além de poder pensar num trabalho novo. Hoje, o 17 de Março é um bairro que tem tido um crescimento avançado, além das escolas, unidade de saúde, maternidade e, agora, as casas sendo construídas. A gente pensa o quanto vai ser bom e, com o que tenho aprendido, acredito que poderia contribuir para que o bairro evolua ainda mais porque acho que esse seja o sentido dos cursos, oficinas e tudo mais que a gente vem tendo acesso”, revela Angélica.
Recanto da Paz
Resultado de um investimento de R$ 8,5 milhões, com recursos conveniados pelo município junto ao Ministério do Desenvolvimento Regional, a obra estruturante realizada na comunidade Recanto da Paz, no bairro Aeroporto, inclui a implantação de redes de drenagem e de esgotamento sanitário, a pavimentação de 25 ruas e a construção de uma praça, além da ligação da rede de esgoto nas 630 residências da localidade.
“O projeto do Recanto da Paz vai trabalhar a melhoria das habitações. Aquela comunidade está numa área que já é bem abastecida de serviços públicos e de infraestrutura, mas temos residências que precisam ser melhoradas, então, um diferencial dessa obra é que as pessoas não vão precisar se deslocar, não vão para um conjunto habitacional, elas permanecem em suas casas e estas casas passarão por uma reforma para que fiquem adequadas a uma habitação, é diferente dos outros projetos, em que as pessoas saem de suas casas e vão para um conjunto habitacional. E esse é um projeto inovador dentro do município, é o primeiro em que estamos trabalhando dessa forma”, reforça Alexandra Freire.
Nascida e criada no Recanto da Paz, Elizabeth Cristina da Silva, de 29 anos, chegou a morar fora da comunidade, mas voltou e hoje relembra como era o tempo difícil da infância e o compara à transformação que acontece, atualmente, na localidade, com o acrescimento do PTS.
“Cresci numa comunidade que não tinha estrutura nenhuma, muita lama, poeira, enfim, um lugar difícil de viver. Em algum momento, os próprios moradores se juntavam para tentar fazer alguma melhora, mas nunca foi nada que pudesse ter muito efeito. Agora, a gente vê a mudança acontecendo e uma das melhores partes é poder contar com a equipe social. Esperei 29 anos por isso. Teremos acesso a uma estrutura boa, organizada e, ainda, temos aprendizado. Depois que tiver tudo pronto, esse trabalho social vai fazer ainda mais efeito porque a comunidade vai poder se desenvolver mais, pensar em atividades que possam melhorar a rotina de todos”, acrescenta.
Também moradora do Recanto da Paz, Thamires Santos da Ressureição, de 32 anos, cresceu na comunidade. Formada em pedagogia, ela também aproveita os cursos ofertados pelo PTS por acreditar que conhecimento é fundamental para a vida.
“Hoje, o sentimento que tenho é de gratidão porque essa obra representa a melhoria de vida das pessoas, principalmente daquelas que lutam há tantos anos para ver essa comunidade reconstruída. O trabalho social encaixa perfeitamente nesse sentido. Trabalhei por dez anos em sala de aula, e hoje me dedico a cuidar do meu filho autista, então, busco nos cursos uma fonte de renda que me ajude, por exemplo, a trabalhar de casa. O que podemos aprender com os cursos ajuda muito por este e por outros motivos que fortalecem a comunidade”, reconhece Thamires.